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JBO - Jornal Brasileiro de Oftalmologia 25 Nº 211 - Outubro/Novembro/Dezembro - 2025
0,017%) não apresentaram diferenças significativas.
Na discussão, bastante detalhada, os autores apon-
A antissepsia com CHX foi associada a uma redu- tam algumas limitações da pesquisa: a grande he-
ção significativa na proporção de EPIVT por Sta- terogeneidade entre os estudos (concentrações,
phylococcus epidermidis (30% vs. 75%, OR = 0,15; tempo de aplicação, formulação aquosa vs. alcoó-
p = 0,004). Nenhuma diferença foi observada para lica da CHX), além do fato de que apenas um en-
outros agentes patogênicos. Do ponto de vista fun- saio randomizado foi incluído na meta-análise (com
cional, a melhor acuidade visual corrigida (MAVC) apenas 50 pacientes por grupo, não permitindo
final após EPIVT foi semelhante entre os dois gru- comparar de forma robusta a taxa de EPIVT entre
pos (CHX: 1,17 logMAR vs. PI: 1,07 logMAR; p = os antissépticos).¹
0,67), correspondendo aproximadamente a 20/320
e 20/250, respectivamente. Os autores também se detêm sobre o estudo ob-
servacional de Mishra et al., que relatou uma taxa
A CHX apresentou um melhor perfil de tolerância: significativamente mais alta de EPIVT com CHX
dois estudos relataram intolerância mínima (0,05% (20/31.135, ou 0,06%) em comparação com PI
dos pacientes solicitaram troca do antisséptico), (29/139.817, ou 0,02%), ou seja, um risco relativo
sem casos de alergia. Além disso, os escores de de 3,1.² Eles destacam dois pontos relevantes:
dor relatados foram significativamente menores 1. o uso de uma formulação alcoólica de CHX (rara-
com a CHX: um estudo randomizado mostrou uma mente empregada em oftalmologia, mas tão eficaz
dor média de 0,4/10 com CHX versus 1,4/10 com PI quanto a formulação aquosa para antissepsia cutâ-
(p < 0,001). No mesmo estudo, a PI foi associada a nea³), aplicada de forma focal com swab, sem irri-
maior toxicidade epitelial, com escores de colora- gação adequada dos fundos de saco conjuntivais; e
ção corneana mais elevados.¹ 2. pacientes significativamente mais idosos no
grupo CHX.
As culturas da superfície ocular (pálpebras e con-
juntiva), antes e após a antissepsia, mostraram re- Os potenciais inconvenientes das soluções de CHX
dução comparável no número de isolados micro- atualmente disponíveis são seu caráter incolor, que
bianos com CHX e PI, sem diferença significativa. dificulta o controle visual da correta aplicação nos
fundos de saco, e sua instabilidade sob exposição
Para reforçar seus resultados, os autores incluíram à radiação UV — fatores importantes para o arma-
na discussão os dados de um resumo apresentado zenamento. Além disso, a CHX pode ser mais cara
no congresso ARVO de 2024 por Fitzpatrick et al. que a PI se um novo frasco for utilizado em cada
(2024), elevando o número total de IVT para mais sessão, embora a reutilização racional dos frascos
de 745.000. Os resultados permaneceram global- possa ser considerada.
mente coerentes. As taxas de EPIVT presumida
(0,030% com CHX vs. 0,025% com PI) e de EPIVT Em conclusão, a CHX surge como uma alternativa
possível à PI para a antissepsia em injeções intraví-
com culturas positivas (0,014% vs. 0,007%) não di- treas, sem diferença significativa em termos de efi-
feriram significativamente entre os grupos — em- cácia na prevenção de endoftalmite, mas com van-
bora, novamente, a taxa de EPIVT com cultura po- tagens em conforto, tolerância e menor toxicidade
sitiva tenha sido quase duas vezes maior com CHX. epitelial. Seu uso pode ser especialmente útil em

