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JBO - Jornal Brasileiro de Oftalmologia              34            Nº 211 - Outubro/Novembro/Dezembro - 2025



          UM OUTRO OLHAR







                        CONTAR HISTÓRIAS E CONSTRUIR MEMÓRIAS

                           Artista visual mineira radicada no Rio de Janeiro, Andréa Facchini
                                    cria fábulas poéticas que provocam o imaginário.


                           Um fio de cabelo sobre uma ca-      dade de rico acervo de arte pública e de grande impor-
                           misa pode representar uma sobre-    tância cultural na década de 1950. Minha infância, num
                           posição de fios. Na série de pin-   sobrado de uma rua comercial, com poucos brinquedos,
                           turas “Terezas”, Andréa Facchini    foi cercada por livros, especialmente a enciclopédia ilus-
                           (@andreafacchini_arte)  mistura     trada “O Tesouro da Juventude” reunindo arte, ciência,
                           essas duas noções para revolver     história e literatura, que aguçavam minha imaginação,
                           memórias, sensações e afetos. Em    tanto quanto os impressos com reproduções de arte que
                           suas grandes telas, como “Flor de   meu pai recebia em sua farmácia, como propaganda de
                           pele, raiz de cabelo”, com mais     laboratórios estrangeiros. Somado a isso, elementos do
      de 1,70m de altura, as tranças criam um emaranhado       universo feminino, como costuras, moldes, bordados
      com coloridos tecidos e tudo se funde, se mistura, se    e tecidos de minha mãe e das mulheres da família me
      invade. Os fios de cabelo brotam dos panos. E as es-     encantavam,  talvez  por  necessidade  de  identificação.
      tampas transbordam para os cabelos. Há uma poesia tão
      complexa quanto delicada.


      Natural de Cataguases (MG) e residente em Niterói (RJ),
      a artista visual constrói um universo muito próprio e fa-
      bular em sua vasta produção de diversificada linguagem,
      do desenho a instalação. Com obras no acervo do Cen-
      tro Cultural dos Correios e no Museu do Estado do Pará,
      Andréa soma prêmios como o do Salão Arte Pará e o de
      Pintura no Salon d’Automne da América Latina, em São
      Paulo, o que lhe rendeu uma participação no Salon d’Au-
      tomne em Paris, na França.


      Em entrevista ao JBO, Andréa fala sobre seu processo
      criativo, suas memórias e referências, além de retratar a
      diferença entre os verbos ver e olhar. “Ver é quando o
      olhar enxerga com atenção e percepção ativa, o que de-
      manda um aprendizado desse olhar”, explica a artista de
      gestos sensíveis, que diz muito ao revelar apenas um fio.


      JBO – Como surgiu seu interesse pelas artes? E como
      se deu seu envolvimento?
                                                               Obra “Flor de pele, raiz de cabelo (Auto-retrato barroco até a  alma)”, da
      Andréa Facchini - Sou de Cataguases (Minas Gerais), ci-      série “Terezas”, acrílica sobre lona, 177cm x 134cm, 2011/2014.
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