Page 20 - JBO-199 (OUT-NOV-DEZ)
P. 20
JBO - Jornal Brasileiro de Oftalmologia 20 Nº 199 - Outubro / Novembro / Dezembro - 2022
ARTIGO RBO
Análise de custo-utilidade do implante trabecular iStent inject®
para o tratamento do glaucoma de ângulo aberto no Brasil
Estudo demonstrou que a incorporação do iStent inject® ao Sistema Único de Saúde, para o
tratamento do glaucoma, proporciona melhora da qualidade de vida a um custo
adicional capaz de beneficiar os pacientes.
Artigo publicado na Revista Brasileira de Oftalmologia (RBO) ciente normalmente seria encaminhado para a cirurgia tradicional
aponta que, após análise de custo-utilidade, a incorporação da de glaucoma. O estudo avaliou de maneira hipotética, através de
tecnologia iStent inject® ao Sistema Público de Saúde (SUS) repre- um modelo matemático, a possibilidade de usar o dispositivo trabe-
senta alternativa para melhora da qualidade de vida dos pacientes cular como alternativa à segunda linha de tratamento, ou seja, após
que possuem glaucoma. a falha do primeiro colírio”, explica Dr. Ricardo Paletta Guedes.
Os resultados mostraram que o uso do dispositivo iStent inject
Dr. Ricardo Paletta Guedes, um dos gera ganhos na qualidade de vida dos pacientes em comparação
autores do trabalho, explica que os com a estratégia de tratamento exclusiva com colírios, porém com
implantes trabeculares, como é o um custo adicional de R$ 4.500,00 por benefício alcançado. Dr.
caso do iStent inject®, são utiliza- Ricardo Paletta Guedes explica que, segundo a Organização Mun-
dos para o tratamento do glaucoma dial de Saúde (OMS), uma tecnologia em saúde pode ser consi-
de ângulo aberto em estágio inicial derada custo-efetiva, ou seja, viável do ponto de vista econômico,
a moderado, auxiliando na redução se o custo por benefício alcançado não ultrapassar o valor de três
da pressão intraocular e na quanti- vezes o PIB per capita, o que estaria em torno de R$100.000,00,
dade de remédios. “No glaucoma no Brasil. “O custo adicional ficou bem abaixo do limiar proposto
primário de ângulo aberto ocorre pela OMS, tornando a tecnologia benéfica para o SUS e para os
um aumento da pressão intraocu- pacientes assistidos pelo sistema público de saúde”, ressalta.
lar, que desencadeará uma série de alterações no nervo óptico,
gerando uma lesão estrutural e funcional. A pressão intraocular se A pesquisa foi utilizada na análise técnica realizada pelo Ministério
eleva devido a uma obstrução gradativa e progressiva da via con- da Saúde, levando à sua incorporação definitiva pelo SUS. “Ficamos
vencional (trabecular) de drenagem do humor aquoso. Os implan- felizes em poder contribuir com evidências científicas robustas, que
tes trabeculares têm como objetivo restabelecer o fluxo natural de ajudaram a facilitar o acesso da população brasileira mais carente a
drenagem do humor aquoso pela via trabecular”, esclarece. esta tecnologia inovadora”, conclui Dr. Ricardo Paletta Guedes.
O médico destaca que o procedimento possui alta segurança,
com taxas de complicações bastante reduzidas. “Quando estas Autora detalha a incorporação de tecnologias pelo SUS
ocorrem, geralmente são transitórias e de fácil resolução. A eficá-
cia e a segurança do implante trabecular permitem que o mesmo Camila Pepe, que é Engenheira de Produção e Mestre em Ciências
possa ser utilizado como alternativa ao uso de colírios para reduzir Médicas, também autora do trabalho, explica que a incorporação
a pressão ocular”. de novas tecnologias pelo SUS se dá pela Comissão Nacional de
Incorporação de Tecnologias no
Partindo desta premissa, o estudo buscou avaliar se a incorpo- Sistema Único de Saúde (Conitec),
ração do implante trabecular iStent inject (Glaukos Inc., EUA) ao um órgão colegiado permanente
Sistema Público de Saúde (SUS) seria viável do ponto de vista eco- que tem como objetivo assessorar
nômico. “O SUS possui centros de referência e diretrizes clínicas o Ministério da Saúde nas atribui-
para tratamento e acompanhamento do glaucoma. Basicamente, ções relativas à incorporação, ex-
a conduta referência é iniciar o tratamento com 1 colírio. Caso ele clusão ou alteração de tecnologias
não seja suficiente, acrescenta-se outro colírio e, até mesmo, um em saúde, bem como na consti-
terceiro medicamento. Somente após a falha de 3 colírios, o pa- tuição ou alteração de protocolos