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JBO - Jornal Brasileiro de Oftalmologia 22
Lives SBO 100 Anos:
informação atualizada o tempo todo
A SBO, em comemoração ao seu centenário, está realizando as Lives SBO 100 anos. Coordenados por Dr. Mário Motta e
Dr. Sérgio Fernandes, os encontros virtuais reúnem especialistas de todo o Brasil. Confira, nesta edição, o resumo
de algumas das questões debatidas nas Lives de Julho, Agosto e Setembro.
JULHO TURQUESA - Olho Seco 19/07/2022
Coordenadores: José Álvaro Gomes, Mário Motta e Sérgio Fernandes
Dr. José Álvaro Gomes
O olho seco é um problema extremamente
comum, que afeta milhões de pessoas no
mundo, causando uma série de consequên-
cias médicas, sociais e econômicas. Confor-
me diversos estudos, a prevalência de olho
seco é maior do que se imaginava. Acaba-
mos de publicar um estudo (Prevalence and
Risk Factors for Dry Eye Disease in Brazil: the
São Paulo Dry Eye Study. Arq Bras Oftalmol 2022) focado na
prevalência de olho seco na cidade de São Paulo. Os resulta-
dos foram similares à maioria das pesquisas feitas no mundo,
com uma prevalência do problema em 24% da população. São
Paulo, por ser uma metrópole, possui influência do clima seco
(principalmente no inverno) e da poluição, o que pode ter con-
tribuído com a alta prevalência quando comparada com outras
regiões do país. Identificou-se, neste estudo, que o problema
é mais comum nas mulheres e que há fatores associados ao
quadro como, por exemplo, idade, hipertensão e uso de medi-
camentos tópicos. Outro estudo publicado recentemente por
Como diferenciar olho seco evaporativo de olho seco por
deficiência aquosa? Precisa fazer teste de Schirmer?
Precisa utilizar exames caros de imagem? E a osmolaridade?
Dra. Ruth Santo
O olho seco evaporativo é o mais frequente,
presente em mais de 90% dos casos. Destes
90%, cerca de 40% dos pacientes apresentam
uma combinação de olho seco evaporativo
com deficiência aquosa, geralmente com qua-
dros mais sintomáticos e de maior gravidade.
É essencial uma boa anamnese para identifi-
car fatores de risco que podem levar a uma deficiência aquosa,
tais como doenças autoimunes, idade, medicações sistêmicas e
cirurgias oculares. O olho seco evaporativo é o mais frequente
devido à presença de fatores extrínsecos, que atingem todas as
camadas populacionais, como as alterações comportamentais
Qual sua estratégia para receitar colírio lubrificante? Você
associa diferentes tipos de lubrificantes para o mesmo paciente?
Dra. Mônica Alves
Para realizar a escolha do lubrificante é preci-
so avaliar o tipo de olho seco que o paciente
possui: se por deficiência aquosa ou evapora-
tiva, lembrando que há os casos em que estão
presentes as duas formas. O segundo ponto é
avaliar a frequência de uso que esse paciente
necessita. Quando o quadro é leve, apenas
Nº 199 - Outubro / Novembro / Dezembro - 2022
nosso grupo (Dry Eye Prevalence and Main Risk Factors Among
Undergraduate Students in Brazil. Plos One 2021) avaliou mais
de 2000 alunos da Unicamp e da Unifesp. O resultado indicou
que 23% dos alunos apresentavam sintomas ou história prévia
de diagnóstico de olho seco, também com maior incidência
nas mulheres. Fatores de risco identificados: tempo de uso de
computador/celular, horas de sono abaixo de 6h, uso de con-
traceptivo oral e de lentes de contato. O aumento de casos de
olho seco tem chamado a atenção de médicos, pesquisadores,
indústria farmacêutica e associações que estudam esse tema,
como a Tear Film & Ocular Surface Society (TFOS), a maior so-
ciedade dedicada à questão. No Brasil existe a Associação de
Portadores de Olho Seco (APOS), que completou 11 anos em
2021. Através da parceria da APOS com a TFOS, foi introduzido
o Julho Turquesa, que busca divulgar e conscientizar a popula-
ção acerca do tema. Essa campanha tem sido ampliada ano a
ano, acompanhando a crescente incidência de olho seco na po-
pulação, que se acelerou nos períodos de pandemia e pós-pan-
demia de Covid-19 devido ao aumento do número de horas na
frente das telas de computador e celular.
(ritmo de piscamento reduzido) e climáticas (umidade do ar). Há
também fatores intrínsecos, dentre eles, a principal é a disfun-
ção da glândula meibomiana. A deficiência aquosa geralmente
é decorrente de condições permanentes, enquanto as causas de
olho seco evaporativo estão relacionadas, em grande parte, a
condições temporárias e, portanto, passíveis de maior contro-
le. Para reconhecer os pacientes que possuem a diminuição de
produção da lágrima utiliza-se o teste de Schirmer. Trata-se de
um teste quantitativo, realizado sem anestésico, onde se avalia
a secreção basal e reflexa da lágrima. São considerados valores
normais acima de 10mm, mas alguns autores consideram que
uma deficiência aquosa é relevante abaixo de 5mm. Existem tec-
nologias e equipamentos que também auxiliam no diagnóstico
e na indicação do tratamento do olho seco. A meibografia, por
exemplo, é um exame de imagem que auxilia na identificação
da disfunção das glândulas meibomianas. Quanto ao teste de
osmolaridade, embora seja um método bem objetivo e acurado
na determinação da qualidade da lágrima, não é imprescindível
para diagnóstico do olho seco em consultório.
3 a 4 instilações ao dia são o suficiente. Mas se o caso indicar a
necessidade de mais de 4 instilações ao dia, é preciso prescrever
uma formulação sem conservantes, visto que a utilização destes
componentes ao longo do tempo, após muito uso e de muito
tempo, tem uma ação cumulativa de toxicidade. É importante
também avaliar bem a superfície ocular, através da utilização dos
corantes. Se o paciente possui muito defeito epitelial, existem
formulações que possuem ácido hialurônico, contribuindo para
que essa superfície possa se regenerar e ter maior integridade.
Por fim, considera-se também a percepção subjetiva do pacien-
te, que aponta aqueles medicamentos que promovem maior
conforto e melhor adaptação às suas necessidades.