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JBO - Jornal Brasileiro de Oftalmologia              41            Nº 203 - Outubro/Novembro/Dezembro - 2023



      metidos, é preciso lembrar que a provável locali-        óbito. Se o paciente tiver outros sintomas neuroló-
      zação da lesão é o seio cavernoso, que pode ser          gicos associados, como hemiplegia, ataxia e parali-
      afetado por mecanismos de trombose, infecciosos          sia facial, é preciso lembrar das lesões fasciculares
      e  lesões  compressivas,  principalmente  meningio-      do terceiro nervo. Nesse tipo de lesão, dificilmente
      mas e lesões expansivas do quiasma óptico e da           os pacientes chegam inicialmente para o oftalmo-
      hipófise. Se esse paciente apresenta uma paralisia       logista, pois normalmente serão avaliados primeiro
      isolada, é preciso verificar se há envolvimento ou       pelo neurologista.  São, portanto, condições menos
      não da pupila. Isto porque se houver uma causa           frequentes no consultório, mas é muito importante
      compressiva, seja ela tumoral ou aneurismática,          porque são quadros que podem ter complicações
      esse paciente vai ter, como manifestação, além de        neurológicas associadas potencialmente graves. Os
      oftalmoplegia e da ptose palpebral, um quadro de         casos de paralisia do III nervo, sem envolvimento
      dilatação da pupila. Nesse caso é obrigatório reali-     pupilar, são mais comumente associados a causas
      zar um exame de neuroimagem, porque a possibi-           microvasculares, onde ocorrem pequenos infartos,
      lidade desse paciente ter, por exemplo, um aneu-
      risma ou outra lesão compreensiva é enorme. Sem          que são suficientes para gerar a oftalmoplegia. Es-
      dúvida nenhuma, das condições mais importantes           tes casos são mais comuns em idosos, hipertensos,
      relacionadas à paralisia do terceiro nervo associa-      diabéticos assim como outros fatores de risco para
      do ao acometimento da pupila está o aneurisma da         doença aterosclerótica. Em suma, o oftalmologista
      artéria comunicante posterior. Essa situação requer      deve estar atento às principais manifestações ocu-
      muito cuidado, porque esse paciente pode ter um          lares associadas a paralisias oculomotoras, o que
      rompimento desse aneurisma, ter um sangramento           possibilitará um correto diagnóstico e condução
      e complicações neurológicas graves, inclusive vir a      diante destes casos.





                                                               são central, como distorção, metamorfopsia, etc.
         Homem de 65 anos traz como resultado de
                                                               Quase sempre é unilateral, acometendo homens,
         retinografia fluorescente: MACTEL em ambos os
                                                               geralmente ao redor da quarta década. Nesse
         olhos. O que é isso e como tratar?
                                                               caso, pode-se utilizar laser focal, cortisona, Anti-
                         Dr. Eduardo Cunha                     -VEFG. O tratamento depende de cada experiên-
                         O termo telangiectasia foi            cia, mas sou bem a favor destes pacientes tratarem
                         cunhado  por  Von  Graef,  em         com Anti-VEGF. A MacTel tipo 2 é considerada uma
                         1807, e pode ser compreendido         patologia macular neuro degenerativa, que afeta as
                         como vasinhos cutâneos super-         células de Muller. Ao perder as células de Muller,
                         ficiais visíveis a olho nu. A defi-   há a perda de fotorreceptores e alterações na re-
                         nição na época estabelecia que        tina externa. Na fase inicial, identifica-se uma área
      estes vasinhos podem ser desde capilares, arterío-
      las e vênulas. Podem ter formatos variados (linear,      mais pálida da retina. É possível fazer o diagnósti-
      arborizado, spider e papular) e apresentar cor mais      co com uma boa angiofluoresceinografia. Autofluor
      escura, quando do lado venoso, ou vermelho bri-          também pode ajudar. As células de Muller degene-
      lhante, quando arteriolar. O MacTel são telangiec-       radas podem apresentar depósitos de cristais. Há
      tasias maculares, que estão associadas à dilatação       dois tipos de evolução clínica na MacTel tipo 2: não
      de capilares. Na fase inicial, afetam sobretudo a        proliferativa e proliferativa. A degenaração das cé-
      porção temporal da área macular. A Mac Tel pode          lulas de Muller associadas com a atrofia macular é
      ser do tipo 1 e tipo 2. A do tipo 1 é mais rara. Seria   a causa mais importante de perda progressiva da
      uma variante mínima da doença de Coat’s. Não se          visão central na fase não proliferativa. A fase pro-
      sabe muito bem a causa dessa telangiectasia. Aco-        liferativa se caracteriza pela presença de neovasos
      mete a parte temporal da mácula e apresenta-se           subrretinianos, causa mais importante de perda da
      como vasinhos dilatados, às vezes, incompetentes,        visão central nessa fase. Nesse caso, há indicação
      podendo causar edema macular e alteração da vi-          do uso de drogas Anti-VEGF.
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