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JBO - Jornal Brasileiro de Oftalmologia 38 Nº 203 - Outubro/Novembro/Dezembro - 2023
fazer esse processo de manipulação, a gente perde
Usuário de lentes de contato refere dor e baixa
o tempo de tratar. É importante lembrar de man-
visual em OE. Ao exame, encontramos hipere-
mia conjuntival, uma mancha esbranquiçada na dar a lente de contato para cultura, porque ela nos
córnea e visão 20/80. Qual a sua conduta? dá o agente infeccioso. Quando o paciente é usu-
ário de lentes de contato, é preciso pensar sempre
Dra. Nilva Moraes que a desepitelização é infecciosa. Poderia ser uma
O ideal é fazer um raspado des- isquemia pelo uso irregular da lente de contato?
sa lesão e mandar para o labora- Até poderia. Mas, principalmente, se a úlcera está
tório e já entrar com antibiótico no limbo, onde chega mais vascularização, onde há
de amplo espectro, que pode mais chance de piorar essa desepitelização, é im-
ser a moxifloxacino, de meia em portante fazer o diagnóstico do agente etiológico.
meia hora. O melhor seria o antibiótico fortificado. No consultório, então, fazemos o raspado e man-
Antigamente, no próprio consultório, a gente aspi- damos para o laboratório. Caso a gente não tenha
rava da própria vancomicina e ceftazidima e fazia o essa condição, deve-se mandar a lente de contato,
colírio. Agora, é preciso mandar manipular - e, até picando-a para envio ao laboratório.
mais importante, nas lesões mais extensas realizar
O que fazer e o que não fazer diante de uma a sutura o quanto antes, para evitar outras compli-
ferida corneana?
cações. Em uma laceração lamelar de córnea, por
exemplo, considerada como um trauma fechado,
Dr. Victor Massote
devemos lavar bem a interface da ferida e prescre-
Inicialmente, é preciso separar
ver colírios antibióticos, às vezes com corticoide, e
cada lesão conforme a gravida-
lançar mão de uma lente de contato terapêutica.
de, para definir a abordagem a
Em um trauma penetrante de córnea, com câma-
ser realizada. Os cuidados pré-
ra anterior (CA) formada, com sinal de Seidel ne-
-operatórios são: uma anamne-
gativo ou discreto, a lente de contato terapêutica
se bem detalhada, com ênfase no mecanismo do
pode ser uma boa opção, sempre lembrando de
trauma; anotar o máximo de informações no pron-
prescrever um colírio antibiótico nos primeiros dias
tuário (lembrando sempre do olho contra lateral e a
e observar nas próximas 48-72 horas. Em um trau-
acuidade visual na admissão, pois é um fator prog-
ma também pequeno, mas com a câmara mais for-
nóstico importante); evitar uma manipulação exces-
mada e um Seidel positivo, pode-se tentar, em um
siva, mesmo na hora de pingar os colírios; sempre
que possível, tentar fazer um exame de imagem e primeiro momento, a lente de contato, mas mui-
uma foto documentação; nas lesões mais extensas, tas vezes o caso evolui para uma sutura de córnea.
não fazer curativo compressivo; se possível, admi- Nos traumas onde há uma laceração corneana mais
nistrar antibiótico endovenoso; verificar situação extensa, com hérnia de íris, catarata traumática, a
vacinal da anti-tetânica; fazer um analgésico e, o abordagem, geralmente, será cirúrgica.