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JBO - Jornal Brasileiro de Oftalmologia 10 Nº 211 - Outubro/Novembro/Dezembro - 2025
O GLAUCOMA E OS BRASILEIROS
Pesquisa contribui para o dia a dia do consultório dante de medicina precisa estar consciente dessa responsa-
Ao mesmo tempo que mapeia as dificuldades da popula- bilidade enquanto agente promotor da saúde da população,
ção, a pesquisa oferece relevantes subsídios para a atuação e os colegas médicos que atuam envolvidos na formação
e formação do médico. “Há uma oportunidade de melhoria desses profissionais podem ser excelentes aliados para pro-
na comunicação médico-paciente. Muitas vezes o oftalmo- mover essa conscientização dos futuros médicos. Professo-
logista realiza a tonometria e o exame de fundo de olho, res e preceptores têm papel decisivo nesse processo de for-
por exemplo, mas o paciente não entende o que está sendo mação, transmitindo também responsabilidade e empatia”,
feito e, portanto, não associa esses procedimentos à pre- avalia Dra. Ana Flávia. “Essa pesquisa nos mostra que temos
venção do glaucoma. Isso reforça a importância de explicar que nos aproximar da população. A gente, às vezes, sai da
cada etapa da consulta, esclarecendo o propósito de cada formação bem-informado, com muito conhecimento teórico
exame”, destaca o presidente da SBO, observando que o e técnico, mas sem saber dos vazios existenciais, que pode
diálogo ajuda na adesão ao tratamento e amplia a confiabili- ser a comunicação. Quanto mais alerta a população estiver,
dade. “O estudo, portanto, traz um alerta também para nós, mais informações tiver, mais vai exigir condições melhores
médicos, sobre a necessidade de sermos mais didáticos e de tratamento”, concorda Dr. Emílio.
próximos na relação com nossos pacientes”, completa Dr.
Oswaldo Ferreira Moura Brasil. Projetar o futuro
Na medida em que um problema é conhecido, melhores
Chamando atenção para o percentual de 60% dos entrevis- serão as ferramentas para combatê-lo e maiores serão as
tados que demonstram interesse em aprender sobre o glau- chances de sucesso. Diante do retrato realizado pela pes-
coma, Dra. Ana Flávia Belfort destaca o papel da consulta quisa sobre os conhecimentos e hábitos dos brasileiros em
no que chama de cadeia de conscientização. “Esse indiví- relação ao glaucoma, boas perspectivas se colocam para as
duo pode se tornar um agente que irá estimular sua família ações futuras. “O primeiro passo consiste em entender o
e seus amigos a procurar o oftalmologista para consulta de cenário para planejar ações de maior impacto. Esse estu-
rotina. Quanto mais pudermos explicar os passos do exame do traz dados que abrem avenidas de oportunidades para
para que ele compreenda a importância de cada ação du- ações direcionadas e eficientes com o objetivo de melhorar
rante a consulta, mais informado ele estará para replicar es- a conscientização da população brasileira sobre essa doen-
sas informações”, explica. A postura ativa também pode ser ça que é a maior causa de cegueira irreversível no mundo
do paciente. Segundo Dr. Emílio Suzuki, é importante que inteiro”, avalia Dr. Ricardo Paletta Guedes.
o paciente tire o médico de sua zona de conforto com per-
guntas. “Pode ser que o médico tenha se esquecido e não “A integração entre oftalmologistas, gestores e educadores
comunicado. Diante de uma pergunta, ele fala”, comenta. é essencial para fortalecer a prevenção e garantir atendi-
O mesmo deve ser feito em relação à história familiar, que mento adequado”, sugere Dra. Ana Flávia Belfort. “A cria-
depende do relato do paciente. ção do Dia Nacional de Combate ao Glaucoma, instituído
pela Lei nº 10.456/2002 é um dos exemplos de ações que
À formação profissional também são dados nortes. “O estu- podem ser tomadas para auxiliar na informação da popu-

